” Gonzaga – de Pai para Filho” é um filme de 2012 dirigido por Breno Silveira, baseado na história dessas emblemáticos músicos brasileiros: Luis Gonzaga e Gonzaguinha. São Pai e Filho. São figuras de uma história conturbada. São parecidos ou não poderiam ser mais distantes?
É um filho que se identifica na vocação e entrega à música. Um filho que se identifica com seu pai . Parece processo simples, natural. Não é . O filme é feliz ao revelar as nuances, dores e enormes esforços para que Gonzaguinha se torne quem ele é. Também ilumina o seguinte fenômeno, muitas vezes presente nas Organizações Familiares em alguma medida: o que significa ser filho do “Rei do baião”? O que significa ser filho de alguém consagrado em determinado campo /ofício? Gonzaguinha foi um artista imenso.No entanto, ficou conhecido com seu nome associado ao sufixo diminutivo. Consagrou-se como Gonzaguinha e, talvez, dificilmente isso poderia ter sido diferente sendo filho de quem era. Era filho de ” Gonzagão” . Logo, Gonzaguinha.
Dentre muitos aspectos que o filme trata também é interessante notar a transmissão de expectativas entre uma figura e outra. O Pai sonha em ver o filho graduado. Advogado. Seu desejo afirma-se em história pessoal de privação e humilhação: no seu sertão de origem não era “ninguém” perante os códigos sociais vigentes. O sofrimento oriundo do estigma da exclusão e desvalorização o fez desejar um destino diferente para seu filho. Ocorre que o desejo do pai é o desejo do pai. Diferente do desejo do filho. Gonzaguinha também queria da musica fazer sua profissão. Também via na música a sua inspiração e condição de autoria. Sim: pois era uma música pautada por outras marcas a sua. Se Gonzaga transmitia a alegria do forró e a leveza de ” andar por esse país”; Gonzaguinha criava, com sofisticada ironia, “Comportamento Geral” – música na qual retrata um quadro amargo da condição social brasileira. ( Isso não significa que Gonzaguinha tenha excluído a temática festiva e alegre do seu repertório, como tão emblematicamente prova uma de suas obras mais conhecidas: ” O que é , o que é ” : “É a vida – é bonita e é bonita…” ).
Alteridade. É esse um dos fenômenos que o filme ilumina: pai e filho identificados com a paixão pela música. Pai e filho e a tensão de afirmar o que diz respeito a cada um deles. Discriminar-se. Pai e filho em trajetória de encontros e desencontros. De diferentes visões de mundo, de diferentes gerações , de diferentes leituras acerca da realidade. Talvez uma das cenas mais comoventes do filme é quando o pai, na cozinha, apresenta para o filho uma de suas composições: “Asa Branca” . Consulta se o filho havia gostado. ” Ficou bonita” este lhe responde. Era um momento de brigas e desentendimentos dos mais turbulentos entre ambos. Mas nesse instante conseguem escutar-se e admirar-se reciprocamente. Finalmente encontram a possibilidade de parcerias … Não está dada essa condição. Sofrem , viajam, aprendem até que essa conquista se dê.
Em uma Organização Familiar não é diferente. Ser palco da expressão do talento e sinergia entre pais e filhos consiste em um árduo processo. É uma arte.
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
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