O compromisso com uma cultura de inovação é fonte de vantagem competitiva para as organizações. Difícil não concordar com tal premissa. Cristalizá-la na prática, no entanto, é uma arte complexa. E como seria tal desafio no contexto específico da organização familiar?
Podemos refletir que o compromisso com uma cultura de inovação não deixa de ser um compromisso com o futuro: a busca de criação de valor que pode se dar de variadas maneiras (inovação no modelo de gestão; novos produtos e serviços; inovação nos processos, novos segmentos de atuação etc.). Também convém associar o compromisso com uma cultura de inovação a uma atitude empresarial que acolhe e respeita o risco. Porque o projeto de criar algo novo necessariamente significa uma aposta. Claro: uma aposta mais ou menos fundamentada. Mas sempre uma aposta sem garantias quanto aos frutos a serem colhidos (ou não). Em outras palavras, insatisfação com o status quo, curiosidade e atitude exploratória são fatores chave que sustentam a cultura de inovação.
“Empresa familiar” e “Família empresária” são conceitos que representam distintos modelos mentais. Em grandes linhas, na empresa familiar compreende-se que a empresa está a serviço da família, deve satisfazer suas necessidades, ser fonte de “ ajuda” e apoio aos seus membros, provedora de recursos para todos. Em geral, é na égide desse pressuposto que as empresas familiares nascem e entram nas fases iniciais da existência. Já na Família empresária a empresa está em primeiro plano. Nesse caso, a família estaria a serviço do que é melhor para a organização. Como ilustração: um membro da família desempregado encontraria certamente ocupação na empresa familiar e, dificilmente seria de lá despedido. Ao contrário, na Família empresária, isso ocorreria desde que houvesse uma demanda real e concreta por suas competências e qualificações. Na Família empresária, sua permanência na empresa seria determinada pela sua capacidade de agregar valor e não pelo laço afetivo, familiar.
Retomamos que a inovação está associada com um compromisso com o futuro e com uma postura aderente ao risco. Isso não basta, no entanto. É necessário que exista um contexto propício para o pensamento. Conflitos exacerbados, uma cultura marcada pela ansiedade, relações hostis minam o potencial de transformação. Numa empresa familiar, a mudança questiona regras, condutas, pressupostos e maneiras de pensar explícitas e/ou implícitas que têm conotação afetiva pois estão imbricadas nos alicerces da história da empresa e da família. Nos primórdios da fundação representaram a esperança, o amparo. Também pode afetar o equilíbrio dos relacionamentos familiares na empresa. Assim, a mudança pode ser sentida como afronta.
Uma organização familiar robusta e inovadora é uma organização mestiça em certo sentido. Pois a necessidade da família nesse caso passa a ser a de assumir riscos, empreender, abandonar o status quo. A tensão entre “ priorizar” a empresa ou “ proteger” a família é um falso dilema, pois o cuidado com a família se expressa em atender às necessidades da empresa. Façanha notável. A organização inovadora é Empresa familiar e Família empresária ao mesmo tempo.
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
Conheça maisValéria Lisondo
Biblioteca Virtual
Nosso acervo virtual gratuito.