A poeta Cecília Meireles diz : Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. Quando penso na noção da Confiança é desse verso que me lembro. Afinal como explica-la? Por outro lado, como não entende-la? .

Sofia Nestrovski , colaboradora do Nexo debruça-se na palavra Confiar na deliciosa seção ” Léxico” do jornal. Interessante notar que Confiar é coisa muito antiga. Que são polissêmicas as suas associações. Que o sentido de fé também se articula com a palavra. A autora apresenta o verbo ” fiar” como uma de suas antigas expressões e mostra os seus prolongamentos diversos . Fiancé e Fiancée ( noivo e noiva em francês) teriam essa origem. Pagar fiado também.

O best-seller ” Sapiens” de Harari também poderia ser visto como um tratado sobre a confiança. Ao perguntar-se sobre a especificidade da espécie humana e investigar as suas empreitadas no decorrer da história, salta aos olhos a capacidade do homem cooperar de modo complexo e sofisticado. Em grandes grupos. O alicerce disso tudo: ficções. A condição de compartilhar histórias; fincar crenças; inventar realidades. O autor é enfático : sozinhos nos daríamos muito pior do que um gorila em uma ilha deserta. É a vocação da confiança o quê explica o fato dos gorilas serem confinados em alguns zoológicos ao invés do contrário.
(Clique aqui para ouvir o pensador no TED).

Confiança … E como pensa-la na Organização Familiar? Muitas vezes soa tabu trazer essa dimensão à tona. Discutir Boas práticas de Governança no que se refere à Comunicação e Transparência pode ser visto como afronta: ” Mas se é óbvio que nos comunicamos e não escondemos nada de ninguém! Afinal somos uma família!”. É sinal de que há muito trabalho pela frente – não é incomum que uma Família Empresária se veja como espécie de instituição divina na qual tudo vai bem . O sucesso nos negócios seria evidência confortante de que tudo funciona e está dado. Em geral não está. E confiança é construção a ser reeditada e cuidada permanentemente.

Harari também ajuda nessa reflexão. Ao dar relevo ao poder dos mitos e do imaginário podemos com ele formular a pergunta: em que medida a família sonha com a história construída pelo projeto desse empreendimento? Em que medida seus membros nutrem um sentido de propósito e realização nessa saga da qual se sentem ( ou não) parte importante?