Redentor é alguém que assume a figura mítica do auto-sacrifício para redimir os semelhantes desvalidos. Encontramos ao longo da nossa experiência de consultoria várias vezes essa surpreendente e sofrida atitude no trabalho, especialmente protagonizada por algum membro da empresa familiar. Segundo um psicanalista chamado Kancyper (referências bibliográficas no final do texto) na identificação redentora o sujeito opera como um homem-deus encarnado: mortal/imortal. Nessa fantasia, a sua imolação será destacada e compensada com a ressurreição e a vida eterna. O redentor não é qualquer mortal, é um imortal. Com o estabelecimento do vínculo sacrificial o redentor se perpetua como a figura protetora de um suplicante. No manifesto opera como um herói que intercede pela salvação de um outro, mas no latente acaba sendo um mendigo desse outro, que finalmente se posiciona ante ele (o redentor) como um amo ávido e queixoso, impossível de ser satisfeito nas suas intermináveis demandas. A dinâmica emocional sugere um redemoinho que inexoravelmente irá engolir o nadador. Este, obstinadamente tentará manter-se flutuando. Mas em vão.
Para Kancyper, a identificação redentora tem origem na história de gerações que precederam o nascimento do(a) redentor(a), frequentemente o pai (ou os pais), e que estão presentes no seu inconsciente e que o compelem ao cumprimento de uma missão singular: a de redimir a honra ofendida (os feitos não conseguidos) de um “outro” mediante o seu próprio sacrifício. O redentor torna-se um enaltecido herói que libertará, mediante o próprio sacrifício, as feridas narcísicas e não cicatrizadas da história dos pais. Feridas infringidas pelo fracasso destes na consecução de objetivos gloriosos.
O redentor tem dificuldade para assumir sua identidade própria, se constitui através do sacrifício e da reparação compulsiva, e ele somente poderá vir a ser, se cumprir com a dupla função de redentor e de vítima, em nome de um “outro”.
O trabalho de coaching pode sinalizar a presença da situação e indicar a conveniência de terapia que poderá poupar o cliente de um sofrido e infrutuoso desgaste. O trabalho terapêutico com profundidade e recursos visará transformar essa configuração solidamente instalada no domínio do inconsciente e fortalecida desde o alvorecer da vida.
Na nossa experiência, esse fenômeno é recorrente na Empresa Familiar: alguém que encarna com muita força esse papel. Um processo de ajuda permite que a Família Empresária possa dar-se conta das mobilizações em curso nessa dinâmica. Defendemos que o nosso Trabalho visa promover Experiências Transformadores em Empresas Familiares. Nesse caminho, os atores apropriam-se de suas escolhas e entram em contato com os “ pontos cegos” que as revestem. O “Redentor” pode vir a assumir a sua condição de finitude em um plano que não é apenas cognitivo/ intelectual. Também percebe que sua entrega e sacrifício está a serviço de algo que não lhe é extrínseco. Em outras palavras: pode estar ao seu alcance transformar essa equação.
Kancyper, L. Resentimiento Terminable e Interminable – Psicoanálisis y Literatura (p. 92). Buenos Aires, Lumen, 2010
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
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