Filmes são elementos ricos para descortinar dimensões presentes na experiência humana. O filme ” The Wife” ( o texto contém spoiler) suscita interessantes reflexões acerca do papel da mulher na construção de um valioso empreendimento. No caso do filme, o ” casal” constrói uma importante obra literária. A narrativa faz pensar no papel da mulher no contexto de uma empresa familiar.
O título em inglês do filme já revela uma sutil provocação. Quantas vezes o lugar atribuído a uma mulher que exerce importantes funções executivas em uma empresa familiar não é o de ” esposa de…” ?
No filme, o marido Joseph Castleman recebe o Prêmio Nobel de Literatura. Joan, ” The wife”, acompanha o marido no evento. E a trama se faz ao revelar a textura desse vínculo amoroso: sua cumplicidade, sua hostilidade, seus pactos secretos. O ” plot twist” consiste no desconcerto de Joan em face do pactuado durante anos: os louros pela genialidade da vasta produção literária não serão dela. Serão dele.
A temática da liderança feminina na Empresa Familiar já foi objeto de outro texto. Neste, destaca-se como é recente a construção social e cultural segundo a qual as prerrogativas de poder, liderança, influência, autonomia, talento são atribuídas à figura da mulher. O filme também trata disso: Joan “desiste” de ser escritora ao ouvir um conselho de outra autora – ” não escreva! Você não será lida!”.
A circulação do prestígio, as dinâmicas que perpassam distintas gerações e gêneros, a construção das narrativas nas famílias empresárias são temas importantes no nosso trabalho. Isso porque a condição de contribuir, colaborar e desenhar um futuro conjunto também está determinada por fatores como esses. Já ouvimos de muitas jovens: ” não quero trabalhar na empresa da minha família porque cansei de me ver injustiçada. Só o trabalho do meu irmão é reconhecido embora entregue os mesmos resultados que ele”.
O filme também sinaliza a tensão entre pai e filho. David, filho do casal, busca a aprovação do pai ao escrever seu primeiro conto. Recebe mensagens lacônicas do pai e pouco parece importar a devolutiva da mãe. A voz dela não é vista como autoridade gabaritada: é apenas a mãe com o desejo de confortar o filho.
O tema é de uma enorme complexidade e é muito fácil recorrer a leituras esquemáticas ou maniqueístas. Gostei muito de artigo recente publicado na Revista Cult que inclusive critica o filme ” The Wife” nesse sentido:
“…Se os casos do marido poderiam ser um problema em uma outra história, aqui parecem servir apenas para reforçar o esquema maniqueísta de bandido e mocinha, entregando a leitura junto com a obra. Pior, o tratamento do filme de algum modo sugere que as ambições femininas são tão domésticas que o incômodo de Joan só poderia se legitimar nesse eixo..”
A mulher na Empresa Familiar é tema infinito. Que possamos avançar na leitura de suas nuances e sustentar o caos de paradigmas em desconstrução.
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Héctor Lisondo
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