É comum que se use o termo “ sucessão” para descrever um dos desafios da empresa familiar. A noção evoca a ideia de um evento que marcará o feito da “ passagem de bastão”. A frase: “a sucessão ainda não aconteceu na nossa empresa” explicita esse paradigma.
Uma das contribuições da nossa consultoria passa por questionar esse modelo mental. Isso não é feito de forma imperativa nem diretiva. O grupo é convidado a pensar em que medida a noção de sucessão assim concebida serve. Serve à manutenção do status quo. Protege a todos da angústia importante de lidar com o tempo que passa. No aqui e agora. Portanto, esse convite que coloca em marcha a condição de pensar a partir de outros vértices não ocorre desprovido de sofrimento. Como nos alerta Enriquez (2014) não é nada fácil essa tarefa:
…“ As organizações `negam a realidade do tempo e da morte`. Elas se querem imortais, mesmo sabendo que podem desaparecer. Funcionam sob a égide da denegação (eu sei, mas apesar disso…), que as protege de tomar consciência de suas dificuldades, da finitude necessariamente ligada às suas ações e de seu enfrentamento ao real”.
Nesse caminho, sustentar que a nossa intervenção está associada com o processo de transição na empresa familiar é fundamental. O processo de transição define um continuum no qual as diferentes gerações constroem o horizonte futuro como feito diário. Não se trata de precipitar o desenho de um cenário futuro longínquo e abstrato. Assumir a condição que “ não se sabe” quais serão as configurações futuras abre um espaço de experimentação, de teste de cenários e hipóteses, de transmissão de saberes, de cultura de governança na qual todos se veem implicados e com condições de amadurecer esses “não- saberes”. Dar tempo ao tempo para que emerjam essas dúvidas, conflitos, escolhas é sábio. Ter uma ajuda externa que possa nomear e favorecer um espaço seguro para o grupo pensar sobre isso é talvez um jeito de descrever do que se trata o processo de Coaching articulado com a transição na empresa familiar.
Vale lembrar que a nossa proposta de intervenção bebe na fonte da Escola de Tavistock, e, por isso, encontra referências fundamentais na obra de Bion, Elliot Jaques, Susan Long dentre outras e outros. Nesse eixo, o trabalho centrado no aprender a partir da experiência é basilar. E o que se chama de experiência combina a dimensão emocional com a dimensão cognitiva. Por exemplo, quando uma jovem sofre ao dar-se conta que está menos preparada do que imaginava para determinada negociação é quando pode inaugurar um desenvolvimento verdadeiro nessa direção. Aliás, Bion foi um psicanalista que discorreu largamente sobre como pensamos e em que medida a frustração pode favorecer a amplitude de nosso universo mental caso possamos metaboliza-la e transforma-la. Essa pode ser uma outra forma de descrever o processo de Coaching na empresa familiar: o compromisso com a sustentação de um espaço que catalisa as transformações que decorrem desse “ dar-se conta”.
ENRIQUEZ, E. Jogos de Poder na Empresa: sobre os processos de poder e estrutura organizacional. São Paulo, Zagadoni, 2014.
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
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