O livro de Héctor Rafael Lisondo, Gerência sem Catástrofe ou Catástrofe sem Gerência (Rio de Janeiro: Brasport, 2021), apresenta a evolução da visão de mundo e da escala de valores de um engenheiro, na medida em que elas são postas em questão pelos problemas de gestão e de liderança com que se defronta em sua vida profissional. É livro para ser lido por quem pretende ocupar cargos de gestão e principalmente por quem já ocupa algum desses cargos. De estudantes de Administração a responsáveis por programas de desenvolvimento de executivos, de supervisores de pequenas equipes de trabalho a executivos responsáveis pelo desempenho de corporações inteiras, todos têm muito a ganhar com essa leitura. Não é, todavia, livro para ser lido de um só fôlego, nem de forma linear. O ideal é que seja lido com vagar e com pausas para meditação praticamente a cada página.
A tese central do livro é que na vida existem momentos decisivos que levam as pessoas a uma transformação, uma conversão. Esses momentos chegam na forma de um despertar ou de uma iluminação, cujo fator desencadeador pode ser uma crise existencial, ansiedade diante de um relacionamento conflituoso no trabalho, até mesmo uma frase despretensiosamente dita por alguém, mas que provoca um abalo na alma e mente de quem a ouve. Lisondo identifica esses momentos como momentos de catástrofe, fazendo uso dessa palavra com o sentido original que tinha no teatro da Grécia Clássica. Momentos em que a pessoa é levada a colocar em questão suas mais enraizadas convicções sobre a condição humana, a reconhecer seus medos e fraquezas, e ao mesmo tempo se sentir estimulada a reunir as próprias forças para agir com coragem, mudar uma visão de mundo até então considerada inabalável, buscar um novo sentido para a própria vida. É este o trajeto existencial que o engenheiro retratado no livro percorre, vivendo sucessivos momentos de catástrofe ao longo de sua carreira profissional.
No decurso da leitura, muitos leitores certamente vão se lembrar de momentos decisivos da própria vida profissional. Provavelmente vão atribuir a essas lembranças uma nota de rodapé retrospectiva como “eu cometi esse erro, porque naquela época eu não sabia disso!”, ou “eu poderia ter feito melhor, se eu soubesse disso!” Lisondo deixa claro que tais arrependimentos não foram dirigidos a incubar culpas, mas têm valor porque deles pode resultar a consciência da importância do tempo presente para um aprendizado que ajude a romper a prisão do passado.
Concluindo, não há nas páginas do livro nenhuma prescrição para a prática de uma gestão perfeita, pois que a perfeição não se encontra entre os homens, não oferece conselhos, posto que nenhum conselho ajuda. O que o livro faz é oferecer referências para um proveitoso aprendizado, cuja principal lição é que no trabalho e na vida devemos estar preparados para agir de modo que nossas ações nos tragam o menor número possível de embaraços, ou que eles sejam os mais perdoáveis. Que a nossa consciência de imperfeição e incompletude seja impulsionadora da eterna busca de sentido para o trabalho e para a vida. Por fim, o livro faz prevalecer o ser ante o fazer.
Andre Ambrosio Abramczuk
Mestrado em Engenharia de Produção, POLI/USP.
Licenciado em Física, UFPR.
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
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