Alberto Gimeno na obra Family Business Models traça uma interessante equação para mapear o Risco Estrutural de uma empresa. Segundo o autor:

(Complexidade da Família + Complexidade do Negócio) – Desenvolvimento da Estrutura= Risco Estrutural.

O objetivo de diminuir o Risco Estrutural de uma Organização poderia ser atingido através de 3 vias: diminuindo a complexidade da família; diminuindo a complexidade do negócio e aumentando o Desenvolvimento da Estrutura.

Ao discorrer sobre o desenvolvimento da estrutura, o autor traduz o desafio em 5 dimensões: Sucessão; Diferenciação Família e Gestão; Instituições Eficazes; Sistemas de Gestão e Comunicação. Tive a oportunidade de ser aluna do Professor Gimeno em 2011 e me lembro claramente da sua fala convicta: ” A Comunicação é a parte mais difícil e desafiadora”.

Se é senso comum na literatura da Governança Corporativa Familiar salientar o valor da comunicação numa família empresária também é verdade que tal tarefa beira o impossível na experiência concreta de muitos grupos.

Um dos mais bonitos e sofisticados exemplos de um diálogo entre pai e filho dificilíssimo está contido na obra de Raduan Nassar – Lavoura Arcaica. Aliás, o livro e o filme oferecem uma profusão de estímulos para pensar numa família empresária: a dimensão da autoridade, a lógica endogâmica; o peso da tradição e o custo da transgressão são alguns dos muitos recortes contidos na obra-prima.

O Capítulo 25 do livro contém uma extensa conversa desencontrada entre o personagem André e seu pai. Há esforço para um diálogo que escapa. O filho busca explicar as razões que o fizeram sair do contexto da família. O pai se vê às voltas de enfrentar os limites daquilo que a família pode e não pode prover. Escuta o filho ao mesmo tempo que desqualifica sua experiência. Selecionamos um pequeno trechos da conversa:

” – Você me assusta, meu filho, sem te entender, entendo contudo seus disparates: não há hostilidade nesta casa, ninguém te nega o direito à vida, não é sequer admissível que te passe esse absurdo pela cabeça.

– É um ponto de vista.

– Refreie tua costumeira impulsividade, não responda desta forma para não ferir o teu pai. Não é um ponto de vista! Todos nós sabemos como se comporta cada um em casa: eu e tua mãe vivemos sempre para vocês, o irmão para o irmão, nunca faltou, a quem necessitasse, o apoio da família!

– O senhor não me entendeu, pai.

– Como posso te entender, meu filho? Existe obstinação na tua recusa, e isto eu também não entendo. Onde você encontraria lugar mais apropriado para discutir os problemas que te afligem?”

A leitura do livro é recomendada não para defender a tese de que a comunicação não seja possível. Mas talvez para suportar que é possível quando também contemplamos a sua face impossível.