Cultivar intercâmbios valiosos é um dos grandes capitais no campo de Consultoria – a troca com parceiros qualificados nos faz menos incompletos. É lógico que para que isso aconteça é necessário um ambiente de crença genuína no valor dessas interações. Por essa razão, compartilhamos aqui o registro do texto elaborado para o evento de lançamento do livro “AJA – O Método: empresas familiares duradouras” que celebrou os 20 anos de consultoria da AJA – Governança e Sucessão em Recife no dia 02/02/23. Muito obrigada pelo convite Antônio Jorge Araújo, Elane Cabral e Bruno Suassuna -é um privilégio tê-los como parceiros.

 Ser convidada a tecer comentários sobre alguma obra é sempre um exercício algo injusto já que algum recorte será feito e muita coisa ficará de fora. Ainda mais no caso do livro em questão – AJA – O Método – empresas familiares duradouras.

Talvez seja oportuno contextualizar o porquê conhecemos a AJA e acompanhamos parte dessa história.  Faz mais de 5 anos que nos aproximamos em virtude do empreendimento da Escola F – a arrojada iniciativa citada no livro cuja proposta é de integrar diferentes profissionais e abordagens que trabalham com Empresas Familiares/ Famílias Empresárias em distintas partes do país. Nós também somos consultores de empresas familiares. Poderíamos ser considerados “concorrentes”. No entanto, a AJA – Antônio Jorge, Elane, Bruno- sempre nos descreveram como parceiros. E não apenas assim nomearam o nosso vínculo, mas “encarnaram” na prática uma relação de frutíferos intercâmbios. No meu entender tanta coisa se congrega nesta atitude: a humildade e gana de trocar com outros; a segurança e confiança no posicionamento já conquistado; a ousadia de pensar para além de um foco regional específico – o Brasil é imenso e há tanto a desbravar e contribuir…

Por isso devo dizer em primeiro lugar da minha alegria de estar em Recife, da minha alegria com esse convite e com a oportunidade de compartilhar esses comentários. A leitura do livro que celebra os 20 anos da AJA é a leitura de uma profusão de feitos. Os anos de prestação de serviços de Consultoria não se divorciam do afinco com a pesquisa através do Projeto RUMO nem com a inquietação empreendedora materializada na Escola F.  E todos estes múltiplos esforços formam uma trama bem urdida na qual a excelência no atendimento aos clientes se nutre de um ambiente qualificado de estudo, pesquisa, rede e vice-versa. A AJA não apenas atendeu diversos clientes nestes 20 anos: também fomentou um ambiente disponível para pensar as encruzilhadas das famílias empresárias. É o que realçou por exemplo o nosso colega Wilson Carnevalli ao relembrar o Capítulo de Pernambuco do IBGC – “um dos mais atuantes e influentes”.

Peço perdão se soar redundante, mas creio que devo sublinhar: a AJA é rara. Não é fácil sustentar consistentemente essa miríade de atuações que mobilizam competências tão diversas. Nem tampouco é fácil alinhavar articulações com tão variados atores e instituições. “Deus dá o frio conforme o cobertor” diz um de nossos sambas.  Descrever o tamanho desses desafios é também dizer do incrível potencial da Sociedade AJA – da sua força, complementariedade e maturidade. 

No livro, Antônio Jorge relata o início da AJA – “Mas a necessidade, naquele instante, era a de construir algo novo. Quando você tem a convicção de que precisa mudar, torna-se insuportável não fazê-lo”. É bonito ler a história da AJA porque é a história de como essa convicção expandiu-se: contagiou muitos outros corações e mentes.

Não menos valioso é o que o livro nos oferece como “Método AJA”. Sempre tive a impressão de que no nosso campo de consultoria para Empresas Familiares é muito fácil copiarmos modelos externos; repetirmos fórmulas já estabelecidas; grifarmos autores estrangeiros. Nada contra esse caminho – acontece que abdicamos de uma veia autoral -original nesta escolha. Não é o que a AJA fez: bebendo na fonte da experiência “ da vida como ela é” a AJA sistematizou com simplicidade dimensões densas do atendimento às Famílias Empresárias.

Um processo de atendimento a um cliente é uma obra de arte: algo muito customizado, delicado, lento… Os depoimentos dos clientes ilustram a natureza singular da relação com a AJA. Por essa razão é bastante difícil formalizar /esquematizar a natureza de uma intervenção. A AJA consegue fazer isso de forma muito didática ao mesmo tempo que fiel à complexidade dos processos retratados.

Poderíamos passar horas e horas pensando nos sentidos e na profundidade que significa conquistar: Relações Fortalecidas; Gerações Integradas; Decisões Seguras e Negócios Duradouros.  O Método AJA explicita que tal arranjo é fruto de um laborioso caminho pautado em diversas camadas: os princípios; os eixos e as etapas de trabalho.

Destaco que os Princípios são reveladores de aspectos chave de como a AJA se situa (e se protege de “pontos cegos” que seriam muito nocivos tanto para o cliente como para os consultores). Ao grifar a “qualidade do vínculo” como decisiva para o processo, a AJA implica-se e responsabiliza-se pela capacidade de criar com o cliente esse ambiente de confiança. Parece uma obviedade, mas não o é- não são poucos os consultores que acreditam que tal vínculo já está assegurado uma vez que o trabalho foi contratado. Tampouco são poucos os consultores que atribuem todas as dificuldades do processo ao fato do “cliente ser difícil” sem auscultarem como princípio básico o que a AJA defende: a importância da qualidade do vínculo. Outro princípio descrito é o da “mudança possível”. Ao sublinhar a dimensão do “possível” a AJA está atenta ao perigo da onipotência: sabe que suas expectativas devem ser submetidas a um critério de realidade e que a busca pelo “ sonho impossível” pode minar o trabalho “ suficientemente bom”. 

Cada palavra do Método AJA foi burilada pela experiência de décadas. Dá para captar isso. Dá para aprender demais disso. Encerro com outro verso de samba: “As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”.  Obrigada AJA por nos ensinar.