Se me pedissem para escolher uma palavra para definir a natureza de uma Organização Familiar eu diria sem titubear: paradoxo. Há outra palavra muito feliz para compor essa ideia: phármakon, termo grego de sentido ambíguo que pode ser traduzido, simultaneamente, tanto como remédio, como veneno. Pensemos no antídoto para uma picada de uma cobra… o remédio consiste justamente em um soro imunizado com veneno da serpente.

Em linhas gerais podemos dizer que o arranjo que torna a Empresa Familiar tão robusta e competitiva contém também os ingredientes que a tornam tão frágil e perigosa. Simultaneamente. Para uma análise mais aprofundada do tema, sugiro a leitura da pesquisa que fiz em 2012 na FGV: Empresas Familiares – Governança Sucessão e Desafios – Instituto Lisondo ( 1.5 -Vantagens e Desvantagens da Empresa Familiar).

Encontrar formas de traduzir a sutileza e intensidade dos fenômenos enfrentados pelos nossos clientes é sempre uma tarefa estimulante. É por esta razão que este texto homenageia um artista imenso: Richard Serra. A primeira vez que vi seu trabalho foi em Bilbao. Lembro-me até hoje do impacto com as suas esculturas: há algo de tão profundamente sólido e flexível. Há também a vertigem da escala: tão demasiadamente humanos e pequenos nos situamos próximos da grandeza de suas esculturas. Há o compromisso com a vocação ousada de materializar o improvável. Há tantos ângulos instigantes para “tatear” o caos, as forças e os riscos das Organizações Familiares no seu trabalho.

Algumas de suas obras evocam a imagem de um labirinto sinuoso. Essa não deixa de ser uma imagem precisa para a Família Empresária que escolheu construir com paciência e sabedoria a sua cultura de Governança: há avanços e recuos. A trilha não se dá em linha reta ininterrupta. Suportar com esperança e fé a crença que saídas serão vislumbradas é a sábia aposta que sustenta um processo tão mobilizador em tantos sentidos. A beleza da sua arte é a proposta subjacente do jogo: é pesado mas também pode ter muita leveza.

E como vivemos no Brasil, vale fazer menção também ao lindo trabalho de Amilcar de Castro ( que dialoga em muitos níveis com o legado de Richard Serra).

Para uma análise

Foto destaque: The Space of Richard Serra Sculpture | Ideelart