” O melhor lugar do mundo é aqui e agora ” – Gilberto Gil

Recentemente tive a oportunidade de contribuir com um fórum de mentoria na Sevilha Contabilidade convidada pelo Vicente Sevilha – empreendedor, profissional e parceiro que muito admiro. O nosso compromisso em considerar o universo das PME`s ( pequenas e médias empresas) coisa muito séria e complexa é um dos pontos de convergência que nos mantêm tão conectados.

Tive a oportunidade de falar um pouco das minhas reflexões acerca de como é difícil as empresas familiares de fato se situarem no ” aqui e agora” de suas circunstâncias e possibilidades. É muito comum escutarmos duas alegações opostas no conteúdo mas idênticas na mensagem: ” estamos de mãos atadas”. Em alguns casos escutamos: “ puxa – é muito cedo e seria muito precipitado nos preocuparmos com a governança e/ou sucessão. Temos outros problemas mais urgentes. Ainda não é tempo“. Em outras situações, afirma-se o seguinte: ” puxa- agora já é tarde. Pensamos que não há espaço para tal investimento… perdemos o timing e não parece fazer sentido investir em algo assim“.

“Dar tempo ao tempo” é uma formulação que me parece ilustrar um dos atributos do estado de arte de uma consultoria afinada com a abordagem psicodinâmica. Bion, autor da psicanálise que tanto nos inspira ressalta o valor da experiência emocional: de um conhecimento encarnado na vida que não se obtém verdadeiramente sem a exposição à ” vida como ela é”. Pois bem: leva tempo e tem seu preço. Ninguém de fato alcança movimentos transformadores amadurecidos sem disponibilidade, entrega e investimento. Isto vale para indivíduos, isto vale para organizações.

Topar um investimento em governança e cuidado na família empresária é difícil porque envolve ter paciência com um processo que carrega muito de desconhecido e imponderável. Sustentar tal premissa não deve ser confundido com um ” laissez faire” irresponsável. Pelo contrário: é a aliança com uma ótica que respeita a complexidade do campo e suas múltiplas tramas possíveis ( aproveitamos para indicar este episódio de nosso Podcast no qual conversamos com Lourdes Feriotti, estudiosa da obra de Morin e do paradigma da Complexidade).

Quando estava preparando a minha fala para o fórum acima mencionado, li por acaso acerca de Hokusai – o famoso pintor e artista japonês muito conhecido pela obra: ” A grande onda de Kanagawa”. Cerca de 40 anos separam o primeiro ensaio da obra que hoje conhecemos. A tranquilidade com o ensaio provisório é uma das lições poderosas que podemos extrair da sua perseverante busca. Nunca é tarde nem cedo demais para começar a jornada.