Redentor é alguém que assume a figura mítica do auto-sacrifício para redimir os semelhantes desvalidos. Encontrei ao longo da minha experiência de consultoria várias vezes essa surpreendente e sofrida atitude no trabalho, por isso creio interessante me estender um pouco na sua análise. Para Kancyper (2010) na identificação redentora o sujeito opera como um homem-deus encarnado: mortal/imortal. Nessa fantasia, a sua imolação será destacada e compensada com a ressurreição e a vida eterna. O redentor não é qualquer mortal, é um imortal. Com o estabelecimento do vínculo sacrificial o redentor se perpetua como a figura protetora de um suplicante. No manifesto opera como um herói que intercede pela salvação de um outro, mas no latente acaba sendo um mendigo desse outro, que finalmente se posiciona ante ele (o redentor) como um amo ávido e queixoso, impossível de ser satisfeito nas suas intermináveis demandas[1]. A dinâmica emocional me sugere um redemoinho que inexoravelmente irá engolir o nadador. Este, obstinadamente tentará manter-se flutuando. Mas em vão.
Para Kancyper, a identificação redentora tem origem na história de gerações que precederam o nascimento do(a) redentor(a), frequentemente o pai (ou os pais), e que estão presentes no seu inconsciente e que o compelem ao cumprimento de uma missão singular: a de redimir a honra ofendida de um “outro” mediante o seu próprio sacrifício. O redentor torna-se um enaltecido herói que libertará, mediante o próprio sacrifício, as feridas narcísicas e não cicatrizadas da história dos pais. Feridas infringidas pelo fracasso destes na consecução de objetivos gloriosos.
O redentor tem dificuldade para assumir sua identidade própria, se constitui através do sacrifício e da reparação compulsiva, e ele somente poderá vir a ser, se cumprir com a dupla função de redentor e de vítima, em nome de um “outro” [2].
Algumas vezes me encontro com essa configuração inconsciente em alguns sucessores durante o trabalho de coaching realizado em processos de sucessão em empresas familiares. Obviamente, o approach do coaching não tem nem a profundidade e nem os recursos para transformar essa configuração sediada no domínio do inconsciente e lá solidamente instalada e fortalecida desde o alvorecer da vida, mas pode identificá-la e indicar a conveniência de um processo de terapia pessoal que poderá poupar o cliente de um sofrido e infrutuoso desgaste. Creio que o investimento vale muito a pena, pois o sofrimento que esta situação emocional impõe é muito grande e resulta em perdas e malogros de oportunidades.
[1] Kancyper, L. Resentimiento Terminable e Interminable – Psicoanálisis y Literatura (p. 92). Buenos Aires, Lumen, 2010
[2] Kancyper, L. Op. Cit.
Héctor Lisondo
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