É sabido que nas empresas familiares o negócio cresce em uma progressão aritmética enquanto a família o faz em uma progressão geométrica. Ou seja: a velocidade do crescimento de uma família é maior que a cadência de crescimento de um negócio. Pensemos no exemplo hipotético de uma empresa fundada por um casal (1ª geração 1G). Tal casal teria dois filhos (2ª geração 2G), que, por sua vez, poderia ter 2 filhos cada (3ª geração 3G). No decorrer dessas gerações, de 2 atores (casal dos fundadores 1G), passamos a ter 6 novos personagens (2 filhos da 2G + 4 netos da 3G). A família “ triplicou” de tamanho nesse horizonte de tempo. O negócio, por sua vez, dificilmente cresce na mesma proporção.

Em consequência, a longevidade da organização está associada com seu crescimento e permanente renovação do conceito do negócio. Ocorre que o processo de Sucessão nem sempre considera esse compromisso. Muitas vezes é concebida fundamentalmente como um processo de cunho jurídico segundo o qual a geração `entrante` receberia as consignas e autoridade para “ tocar” o negócio. É chave nesse processo a capacidade de assumir escolhas e sustentar suas responsabilidades. Como diria Goethe: … “ aquilo que herdaste dos teus pais, conquista-o para fazê-lo teu”.

Diferente e mais promissor é o caminho no qual a sucessão entre gerações é tratada como um processo de transição contínua, que envolve a arquitetura jurídica, mas nela não se esgota. Nesse modelo, a geração `entrante` receberia o estímulo e ônus de empreender e experimentar-se. Conquistaria assim a legitimidade para “reinventar” o negócio. Fazê-lo crescer. O que é muito distinto que dar-lhe sobrevida. Um dos mais notáveis exemplos de Sucessão assim compreendida é o da centenária Empresa Familiar de luxo Ermenegildo Zegna. Se a 1ª geração desenvolveu a expertise em fiação, a 2ª geração incorporou a tecelagem; a 3ª desenvolveu a confecção e a 4ª lançou-se no varejo. No decorrer das gerações o que havia sido construído anteriormente foi preservado. Como alicerce para o próximo desafio. A Sucessão implicou em expandir as fronteiras do conhecido – o que resultou em um posicionamento singular e ousado, difícil de copiar dada a complexidade de uma cadeia de valor bastante sui generis.

Manter vivo o espírito empreendedor em uma família empresária no decorrer do tempo: talvez essa seja uma das mais nobres missões da Sucessão.