Aos poucos compartilho trechos do meu esforço de articulação do que meu orientador sugere pensar como a “clínica psicanalítica na interface com famílias empresárias”. Tem sido muito difícil este esforço porque há quem sustente que a psicanálise na interface com o setor privado é uma impossibilidade.
A lógica de “entregáveis concretos” e “cronogramas definidos” que permeiam o modelo mental do universo dos negócios seria incompatível com a epistemologia da psicanálise. Assumir a variável das forças inconscientes significa a honestidade com oferecer uma aposta que tem muito de incerteza.
Não podemos assegurar que o vínculo de confiança com a consultoria se afirme. Não podemos prometer prazos para as transformações porque cada família tem a sua singularidade : há casos nos quais os “pontos cegos” estão muito “cristalizados” no grupo. Há casos nos quais se apresentam mais rapidamente.
É a confiança na aposta do processo que vai oferecendo respostas e evidências de ” resultados” que se constatam numa família mais amadurecida para assumir suas contradições internas e zelar para que as mesmas sejam suficientemente “contidas” nos fóruns adequados de modo a assegurar para a empresa uma mensagem uníssona e suficientemente coerente das coordenadas, políticas e valores que sustentam um porvir sustentável.
“Numa sucessão está em jogo a tarefa agridoce de reconhecer o percurso empreendido por quem veio antes ao mesmo tempo que encarar suas imperfeições e limites. Os buracos e as falhas do passado são a “ matéria-prima” para a fricção saudável do fio do tempo geracional que permite o bem-vindo movimento das placas tectônicas.
Desmontar o paradigma cartesiano esquemático e reduzido que dificulta a arte de enxegar nuances, sutilezas e complexidades. Numa família empresária as mensagens são ambíguas, assertivas, impacientes, sábias, ofensivas, inteligentes, infantilizadoras, reativas, amorosas, mesquinhas, autoritárias, generosas, controladoras.
É sempre um caldo de muitos elementos, tensões e intensidades em jogo. Afinal: decisões difíceis sempre se apresentam e a pressão da vida real empresarial é o incontornável pano de fundo cuja lógica não se “suspende” nem “pausa”. Ao mesmo tempo que a existência do negócio e de suas demandas facilmente pode ser instrumentalizado para dinâmicas abusivas e intrusivas em termos de expectativas e exigências que ultrapassam o que é factível, razoável.
O magnetismo das forças indiscriminadas. Encontrar a negociação dos limites que discriminam o excessivo do justo, o pertinente do abusivo, o moralista do ético é um caminho nessa empreitada de discriminação. A contratação deste trabalho passa por reconhecer a complexidade de vetores de força e encruzilhadas na árdua tarefa de compor o eixo sincrônico das alianças horizontais presentes nas relações de casais, grupos e instituições com o eixo diacrônico das alianças verticais ou genealógicas tecido nas relações dos pais (tradição, ancestrais) com seus filhos (descendentes).
Kaes, 2014. É a clínica da escuta do movimento do tempo e do espaço – das transformações da sociedade e do mercado que incidem nos atores da família – que demanda uma lente “ multi-espectral” para captar as tensões entre as soluções de compromisso que cada geração precisa inventar para se situar no elo da corrente dos laços sociais de filiação”
Héctor Lisondo
O Instituto Lisondo é uma Consultoria Boutique fundada em 1998 com o propósito de promover o desenvolvimento de pessoas e empresas através de propostas customizadas e bifocais (aspectos técnicos e humanos simultaneamente abordados).
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