Marion Minerbo é uma psicanalista cujos pensamentos têm embasado algumas reflexões. Especificamente daremos realce à experiência que ela nomeia de Miséria / Depleção simbólica. Acompanhemos seu raciocínio: “ convencionou-se chamar de pós-modernidade ao momento histórico em que as grandes instituições que serviram de base para a civilização ocidental entraram em crise. A falência do modelo único, típico da modernidade, pode ser vivida como libertação, mas também como falta de chão. … As formas de sofrer em cada época e lugar , são consubstanciais às formas de ser” . Na atualidade, segundo ela, “ a desvantagem é que cada um tem que se reinventar a partir de si mesmo, já que não conta com o apoio simbolizante das instituições. E isso resulta em um sofrimento correlato que pode ser associado com o tédio, as patologias do vazio” .
“ Eu acho que nunca gostei muito de trabalhar aqui. Mas havia coisas muito sedutoras como um bom salário. Eu gosto de ganhar bem” – reflete uma de nossas clientes . Me ocorre o esforço de pensar em uma Organização Familiar Medieval … Confrarias… será que a Transmissão naquele então de um pai para um filho estava pautada na oferta de um conhecimento; a arte de dominar o processo da panificação, por exemplo? A fala da Filha nos remete ao Vazio acima mencionado por Minerbo. O salário como fim em si mesmo que às vezes tem vez em uma Família cujos membros – filhos- decidem trabalhar na empresa. Empresa do Pai. Descolada de Sentido. Salário sem projeto; sem realização .
Marion Minerbo no artigo acima referido “ O tédio e a Clínica do Vazio” (2017) investiga estratégias que o sujeito contemporâneo adota para fazer face ao sofrimento ligado à depleção simbólica. Uma delas visa produzir próteses identitárias (e consistem em adições à estímulos sensoriais e compulsões). Organizações Familiares se prestariam à essa finalidade também? Alianças Inconscientes selariam um acordo entre os atores das gerações de uma família segundo o qual o exercício de uma vida Empresarial / Executiva estaria à serviço de oferecer um preenchimento nesse nível? Um simulacro de sentido; pertença; projeto…
Sobre a Crise nas Instituições , vale compartilhar fragmento que evidencia essa turbulência. A lei no Brasil institui os filhos como herdeiros obrigatórios dos pais. A transmissão da herança desde o ponto de vista patrimonial tem toda uma ordenação na qual são estabelecidas regras, ordenamentos e sequências. Recentemente participei de um acalorado debate no qual se discutia em que medida caberia ao Estado regrar tais definições e escolhas. O fórum era composto majoritariamente por advogados que compartilhavam casos e histórias. Alguns de seus clientes indagavam – “ Considero os filhos da minha companheira mais meus filhos do que meus filhos biológicos. Quando morrer gostaria que a minha herança fosse transmitida para eles muito mais do que para meus outros filhos biológicos”. Ilustro aqui o questionamento em pauta: deveriam os filhos biológicos serem herdeiros obrigatórios dos seus pais ? É lógico que trata-se de um questionamento apenas. Mas o considero emblemático das areias movediças permeiam a Instituição da ” Família” na atualidade – seus símbolos; paradigmas e “ estabilidades” são questões em aberto ( para não dizer em “colapso”). Para o bem e para o mau. E certamente tudo isso afeta o campo das Empresas Familiares de maneiras importantíssimas e ainda pouco conhecidas para todos nós.
MINERBO, M. O Tédio e a Clínica do Vazio. (2017). Tédio. Revista Brasileira de Psicanálise. V.53, 53-65
Héctor Lisondo
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