Recentemente tive o prazer de participar de uma Pesquisa encabeçada pelo Projeto Rumo.  ( Aliás – vale conhecer a iniciativa e seu compromisso com a Construção de Conhecimentos pertinentes ao tema da Governança Corporativa).  O eixo de pesquisa endereçado na nossa conversa foi o da Sucessão.  Embora já tenha tratado e pensado sobre o assunto em outras oportunidades,  com frequência me surpreendo por um novo viés ; ideias articuladas de uma forma diferente; novas associações …

Ao ser interpelada pela pergunta que é o título desse texto: ” O que você entende por Sucessão na Empresa Familiar?”  ocorreu-me discorrer sobre o que , ao meu ver minaria a condição de uma Sucessão bem-sucedida.    Talvez não tenha respondido tão direta e  objetivamente o questionamento – mas destaquei alguns dos equívocos que atravessam a temática. Compartilho algumas dessas ideias aqui:

• Sucessão não é Fato pontual. É processo contínuo. Nessa perspectiva eu prefiro a palavra ” Transição” para descrever o fenômeno.   Tal compreensão significa assumir que em toda Organização Familiar há um processo de Transição em curso.  A preparação das Gerações Futuras passa a ser uma pauta de prioridade e investimento mesmo que esses atores ainda não figurem na paisagem Executiva e ou Societária da Empresa.
• Sucessão não envolve apenas uma dimensão Jurídica . Envolve também dimensões existenciais; psicológicas.   Resgatamos o anátema de Goethe citado por Freud em uma de suas obras : ” Aquilo que herdaste dos teus pais , conquista-o para fazê-lo teu” . A Sucessão exige muito trabalho psíquico: a condição de apropriar-se daquilo que são nossas heranças e histórias não se endereça através de instrumento jurídico algum.
• Sucessão não deveria ser compreendida como a Manutenção do Construído; mas como a Continuidade de um Legado. E possivelmente a Continuidade da Organização demande o que já tratei em outro texto: A Traição Virtuosa – ou seja: a ruptura; a inovação. A Sucessão nesse raciocínio é compreendida como força motriz da Vida da Empresa Familiar. O compromisso engessado com aquilo que funcionou no passado pode ser fatal.  E com frequência a Sucessão não é pensada em termos desse paradoxo :  ”  uma casa em construção se parece com uma casa em demolição” . Construir e Demolir talvez sejam faces da mesma moeda na Sucessão das Empresas Familiares.