Tivemos o privilégio de conversar com Samer Ghosn acerca da sua decisão de empreender após a experiência de trabalhar no negócio da sua família. Samer Ghosn é o proprietário e fundador do Low – restaurante especializado em carnes defumadas.  ( Aliás: recomendamos!).  Agradecemos a  sua generosidade em compartilhar um pouco da sua história e estamos certos que as suas respostas oferecem enorme contribuição para as famílias empresárias às voltas com essa possibilidade: a do jovem que empreende.

1) Como foi a escolha de trabalhar no Negócio da sua Família durante um período?

Eu estava estagiando no final da faculdade e meu pai sugeriu que eu fosse trabalhar com eles. Em um misto de pressão por ter sido financiado por eles a vida toda e desgosto do mundo corporativo acabei por aceitar.

2) Como foi a escolha de empreender (o seu próprio negócio)?

Estava insatisfeito já havia um tempo com o convívio familiar no mundo dos negócios, a vida familiar havia se tornado uma extensão da vida profissional e acarretava eternas discussões em relação ao dia a dia da empresa. Como eu já tinha um desejo latente de ter meu negócio próprio e estava já há 10 anos trabalhando com minha família decidi dar um passo em direção a minha felicidade e realização profissional, de ter uma empresa de fato com minha visão de mundo.

Low – BBQ – Empreendimento de jovem de Família Empresária

3) O que entende por Governança em uma Empresa Familiar?

Prestação de contas e organização da gestão, de modo que todos tenham direitos e deveres em suas respectivas funções, sem que haja privilégios para determinados membros ou sem que pessoas específicas ultrapassem os limites acordados de sua função.

4) A experiência de conviver com uma Família Empresária é benéfica ou maléfica para o Exercício do Empreendedorismo? Quais as Vantagens e Desvantagens que essa história acarreta no seu voo solo como Empreendedor?

A experiência é bastante benéfica pois você lida bastante com gestão de conflitos e precisa se desdobrar pra atuar em várias frentes, principalmente pelo fato da empresa familiar em geral, e principalmente no meu caso, ter pouca clareza em relação a divisão das tarefas.

As Vantagens foram:
1. Poder atuar em esferas decisórias que eu não teria na minha idade se tivesse no mercado de trabalho.
2. Forte traquejo em gestão de conflitos.
3. Conseguir atuar em muitas frentes de trabalho e setores da empresa.

Desvantagens foram:
1. Não ter tido mais experiência em organização empresarial.
2. Não ter tido um coach ou pessoas com mais bagagem técnica para adquirir mais aprendizado.
3. Não ter podido atuar mais profundamente em um único setor, experiência muito generalista.

5) O que você aprendeu de mais relevante na Experiência de trabalhar no Empreendimento de sua família?

Resiliência, passei por muitas situações difíceis que me fizeram amadurecer profissionalmente, o que hoje me permite enfrentar situações difíceis com muito mais tranquilidade do que se eu tivesse vindo do mundo corporativo como funcionário.

6) Você vislumbra, no futuro, seus filhos trabalhando no seu negócio? (Mesmo que seja uma projeção distante)

Ótimo pergunta, eu tentaria não forçar a situação, eu deixaria meu filho trabalhar com alguns anos no mercado corporativo antes de fazer um convite formal e tentaria na medida do possível deixar que o interesse surja, ou não, de forma espontânea. Obviamente que se eu tiver um negócio que eu acreditasse que pudesse durar outros 20/30/40 anos, sim eu gostaria que meus filhos pudessem um dia tomar conta e prosseguir com o projeto.

7) O que falaria para um jovem indeciso quanto à escolha de trabalhar no Negócio da Família ou buscar outras Experiências?

Eu falaria para inicialmente buscar outras experiências antes de entrar no negócio familiar, principalmente alguma vaga como trainee ou similar, que pudesse dar uma bagagem extensa em diversas frentes. Se o interesse pelo negócio familiar for forte iria sugerir procurar em alguma empresa do ramo.

8) Como foi a construção do conceito do seu próprio Negócio?

Comecei há pesquisar algo em torno de 18 meses antes de abrir, em uma viagem de final de ano me deu um estalo que estava na hora e na semana seguinte comecei a pesquisar mais a fundo sobre o ramo, modelos de negócios, tipos de estabelecimentos similares. Do dia 1 até a inauguração o negócio mudou de forma muitas vezes, foi um processo bastante enriquecedor, creio que tive um pouco de sorte de contar com pessoas que puderam me auxiliar a ver versões melhores do negócio a cada dia.

9) Quais as consequências da sua decisão de Empreender nas suas relações Familiares?

Para ser sincero a relação familiar se desgastou muito durante os anos de convívio profissional, creio que esse respiro até ajude em alguma medida voltarmos a ter laços familiares mais consistentes.

10) Quais erros e acertos na sua Experiência Profissional que gostaria de destacar?

Trajetória familiar:
Erros:
• Creio que tentei impor muito minha vontade e experiência teórica, subjugando a experiência e vontade dos meus pais, que são os fundadores de fato.
• Foco em setores e projetos sem a devida estruturação básica dos setores da empresa, exemplo, não adianta criar um setor novo, se a comunicação entre os setores existentes não existe.
Acertos:
• Concepção e execução de projetos muito bacanas que deram bastante resultados para a empresa, por exemplo marcas próprias.
• Tentativas de estruturação da empresa para andar sem tantas intervenções, ainda que não tenha finalizado conforme projetado creio que tenha sido um esforço bastante importante.

Trajetória pós-família:

Erros:
• Estruturei poucos alguns aspectos do negócio que não julguei tão relevantes.
• Não dei muita bola pra gestão orçamentária do projeto.
• Mais tempo para contratação da equipe inicial, deixei pouco tempo e é uma vertente fundamental.
• Cronograma poderia ter sido melhor acompanhado ao longo do projeto.

Acertos:
• Conceito ficou bem redondo no final das contas, creio que dediquei acertadamente bastante tempo pra isso ficar redondo.
• Estou focando bastante em KPI’s que são fundamentais para a gestão do negócio.

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